A LIQUIDAÇÃO DAS POLÍTICAS DE SEGURANÇA ALIMENTAR NO BRASIL
A fome é feminina
Resumo
Desde a chegada dos portugueses, em 1500, o Brasil tem sido assolado periodicamente pela fome. O fenômeno foi recorrente durante todo o período colonial e permaneceu depois da Independência. Desde então, surtos de fome têm assolado o Brasil, apesar de o país ter a quinta extensão territorial e a sétima maior população do mundo, além de imensos recursos naturais. Esse quadro trágico só conheceu uma breve interrupção durante os governos do Partido dos Trabalhadores (PT), entre 2003 e 2016, em que medidas mais efetivas foram tomadas para enfrentar o flagelo. O resultado viria em 2014, quando o relatório da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), informou que o Brasil cumprira as metas de diminuir pela metade a parcela de sua população que padecia de fome. Mas a reversão dessa conquista se deu rapidamente, a partir do governo de Michel Temer (2016-2018), com a implantação de uma pauta ultraneoliberal, que levou à piora de todos os indicadores sociais. E se agravou durante o governo de Jair Bolsonaro (2019-2022), que conduziu o país a uma tragédia humanitária, com mais de 700 mil mortos por Covid-19, 33 milhões de pessoas passando fome, 125 milhões de indivíduos em estado de insegurança alimentar e a quase dizimação do povo Yanomami. Neste texto, procuramos apontar os elementos que propiciaram a vitória contra a fome e as políticas adotadas a partir de 2016, que levaram à reversão das condições existentes em 2014, indicando também que a volta do país ao mapa da fome foi especialmente trágica para a população feminina, a mais duramente atingida pela destruição das políticas voltadas para a segurança alimentar.