Não vai acontecer aqui? Utopia e distopia na Era Trump

  • Alice de Araújo N. Pereira Instituto Federal Fluminense
Palavras-chave: Distopia, Utopia, Donald Trump, Cultura Americana

Resumo

Em 2016 a disputa entre a democrata Hillary Clinton e o republicano Donald Trump gerou debates acirrados, acusações mútuas e inquietação popular, em um momento que as consequências da crise econômica de 2008, as guerras travadas pelos EUA no exterior e as tensões étnico-raciais internas acirraram as discussões políticas dentro da sociedade americana. Trump venceu e se tornou o 45º presidente dos Estados Unidos. Com uma personalidade carismática, falas simplistas e discurso nacionalista tornaram o ex-apresentador de um reality show o líder do maior potência hegemônica atual. Os posicionamentos e propostas de Trump reavivaram temores de que os EUA poderiam estar caminhando para um regime autoritário, intolerante e reacionário. Embora Trump tenha se colocado como candidato que tornaria a América Grande novamente, remetendo-se a um passado impreciso e com uma retórica permeada por um impulso utópico, tal pensamento parece mais excludente que inclusivo. Parece patente um tom de controle, violência e supressão da diversidade. Esse desenrolar dos acontecimentos soou similar a trama do popular romance distópico Não vai acontecer aqui, de Sinclair Lewis, publicado em 1935, durante o período da Grande Depressão. Na obra, o magnético e demagogo Berzelius “Buzz” Windrip ganha a eleição contra Franklin Roosevelt. Ao assumir a presidência, dá inicio a um governo totalitário e gradualmente percebemos a extensão da truculência e crueldade do novo regime. Almejamos nesse artigo discutir o pensamento utópico presente na retórica de Donald Trump e aos medos distópicos que sucederam sua eleição, utilizando os preceitos teóricos de M. Keith Booker, Tom Moylan e Gregory Claeys. A distopia e a utopia não são somente gêneros literários, mas também pensamento filosófico, por essa razão esse conceitos são fundamentais nessa argumentação. Uma análise de Não vai acontecer aqui e dos discursos do presidente Trump, nos possibilita discutir os fatores da cultura americana e seu imaginário coletivo que informem uma leitura do contexto político atual. As distopias se utilizam da extrapolação para fazer o leitor enxergar mais claramente seu presente, não cunhar uma visão determinista do futuro. O presidente do romance de Lewis, como Trump, também se colocava como aquele que acabaria com os males da Depressão, que traria ordem e progresso. Podemos ver que muitas das questões problematizadas por Lewis nos anos 30 do século passado no que tange a cultura e sociedade estadunidense ainda hoje estão latentes e a distopia pode ser uma chave de interpretação para as circunstâncias atuais.

Biografia do Autor

Alice de Araújo N. Pereira, Instituto Federal Fluminense

Graduada em Letras: inglês/literaturas pela UERJ, mestre em Literaturas de Língua Inglesa também pela UERJ, é doutoranda em Literatura Comparada pela UFF e professora de inglês no Instituto Federal Fluminense (IFF)

Publicado
2018-11-27