Fragmentação da Governança Regional, o Grupo de Lima e a política externa brasileira
(2017-2019)
Resumo
Nos últimos três anos, os principais movimentos multilaterais regionais na América Latina se caracterizaram pela ausência de protagonismo brasileiro e pela fragmentação da governança hemisférica e sub-regional. A tradição da política externa brasileira era de liderança regional com iniciativas que buscavam incluir a totalidade dos vizinhos, independentemente de suas orientações partidárias de turno, e dar legitimidade a suas aspirações globais. No período mais recente, que coincide com o agravamento da crise na Venezuela, com o esvaziamento da Unasul e da CELAC e a dificuldade para se conformar maioria qualificada na OEA, foram apresentadas novas iniciativas regionais com lideranças dispersas. Este artigo investiga a criação e desenvolvimento do Grupo de Lima, iniciativa peruana de agosto de 2017 que tem por objetivo abordar a situação da Venezuela e explorar formas de contribuir para a resolução da crise nesse país. Admite-se que o Grupo de Lima expressa as políticas internas de curto prazo de parte dos países da região, refletindo a falta de coesão no tratamento de temas regionais. Por se tratar de tema recente e pela ausência de literatura específica, faz-se análise apoiada no software de análise de conteúdo AntConc dos temas abordados nos documentos oficiais buscando encontrar traços de continuidade e descontinuidade, relacionando-os, neste artigo, à agenda brasileira. Nota-se que a recondução de Nicolás Maduro à presidência e a autoproclamação de Juan Guaidó, ambas em janeiro de 2019, são o grande marco se inflexão nas declarações do Grupo de Lima.