“Regionalismo governamental” sul-americano
deficiências institucionais e dependência internacional
Resumo
O regionalismo na América do Sul tem passado por um período de transformação e declínio, exemplificado especialmente pelo desmonte da UNASUL e pelas sucessivas críticas ao Mercosul. Tal processo ocorre após uma década de euforia, na qual novas instituições multilaterais foram criadas e a cooperação regional foi pensada como um meio de ampliar a autonomia. Nos anos 2000, uma literatura especializada foi desenvolvida, conceituando tais arranjos como pós-hegemônicos em razão da adoção de uma agenda sócio-política, do questionamento ao neoliberalismo e à liderança hemisférica dos EUA. Contudo, a conjuntura atual, de realinhamento dos países aos EUA e de retorno de políticas econômicas liberalizantes, mostra os limites de tais processos. Considerando esse contexto e sustentando-se no marco teórico institucionalista, o objetivo do artigo é analisar por que o regionalismo sul-americano passa por um período de estagnação. O artigo está dividido em duas seções. Na primeira, através de revisão bibliográfica, realizamos o debate conceitual procurando definir a concepção de regionalismo pós-hegemônico, apresentamos a ideia de “regionalismo governamental”, bem como analisamos a sobreposição de regionalismos e a carência de supranacionalismo, que prejudicam o aprofundamento da integração. Na segunda seção, mormente por meio da análise de dados publicados por organizações como Banco Mundial e CEPAL, apontamos que, mesmo durante o auge do regionalismo pós-hegemônico, houve uma intensificação de relações de dependência internacional, com governos fortemente alinhados com os EUA e outros crescentemente vinculados à China. Concluímos que a marca do atual “regionalismo governamental” encontra-se no acúmulo de dois fatores: a “guinada à direita” na América do Sul e o ceticismo perante as instituições angariado na crise do multilateralismo.