O ano de 2022 comemora-se os 200 anos de nossa república e os 100 anos de 1922. Ano que foi o auge de inúmeros acontecimentos e debates que marcaram decisivamente a história brasileira. Em 1922, comemorava-se o centenário da Independência que ainda estava marcada pelo então denominado belle époque, pelo estrangeirismo nas artes e na cultura, na importação de hábitos de costumes e pelo arrivismo. O país era dominado pelas oligarquias que se revezavam no poder, implementando uma política econômica conservadora, e representavam o passado colonial de nossas relações sociais. Foi em 1922 que tivemos a fundação do Partido Comunista Brasileiro, dos prenúncios do movimento tenentista, que fora os 18 do forte de Copacabana que saíram às ruas demonstrando a insatisfação com a política vigente. O ponto alto desse movimento de contestação é sem sombras de dúvidas a semana de Arte de Moderna em 1922, que não se restringiu a fins meramente estéticos, pois criou novas formas de pensar e conhecer o Brasil a partir da arte, da cultura e da literatura.

O ano de 2022 pode se inserir em marco histórico também, não apenas pelas efemérides dos 200 anos da República e dos 100 da semana de Arte Moderna, mas por marcar, mesmo que eleitoralmente, a derrota da extrema direita de caráter fascistizante que solapou a sociedade brasileira com uma política genocida na pandemia levando a mais 600 mil mortos, ferida aberta que ainda arde em muitas famílias brasileiras que convivem com as perdas de entes queridos. Por outro lado, o ano de 2022 abre possiblidades futuras de pensar caminhos alternativos para o país e para a construção da nação. A revista Mundo e Desenvolvimento realiza mais um dossiê procurando analisar a realidade nacional a partir dos 200 de nossa República, ao buscar elementos para pensar a estrutura da sociedade brasileira diante de seus dilemas, desafios e possibilidades.  Para isso, organizamos um conjunto de texto e autores que aborda a realidade nacional em perspectiva histórica e estrutural, tendo como componente os movimentos sociais, a política institucional, a produção da ciência e etc.

Hegel, no livro Filosofia da História, relata o diálogo entre Goethe e Napoleão, no qual o grande general francês afirmava que não eram mais os deuses, mas a política, que agora definia o futuro das nações no mundo moderno. De forma similar, foi a ação da política, fruto de um complexo arranjo no qual se articularam forças políticas heterogêneas, que levou à criação do Estado brasileiro em 1822. Essas mesmas complexidade e heterogeneidade, que continuaram operando desde então, nos levaram ao ponto em que estamos hoje, com suas virtudes e defeitos. Assim, é a ação política consciente, que considera as potencialidades e as limitações de nosso processo de formação, que definirá o nosso futuro.

Boa leitura!

André Scantimburgo - Editor-chefe da Revista Mundo e Desenvolvimento

Marcelo Augusto Totti - Organizador do dossiê

Marcos Cordeiro Pires - Coordenador do IEEI

Publicado: 2022-12-27